Inovar é essencial, mas para a BRF a sinergia é maior se startups e universidades entenderem estas 7 premissas básicas da companhia
Fazer a lista de mercado, comprar os alimentos, higienizá-los, prepará-los, descartar restos e limpar tudo depois do consumo. Se eu e você enfrentamos desafios para comer todos os dias, imagine uma empresa que produz 33 milhões de aves e 131 mil suínos por semana?
Para solucionar estes e outros desafios, a BRF procura aperfeiçoar constantemente seus processos, sistemas e tecnologias. Afinal, é preciso entregar produtos de qualidade da forma mais ágil, inteligente e sem desperdício possível. E uma das melhores formas de fazer isso é trabalhar com parcerias com o ecossistema de inovação.
O braço da companhia de alimentos que faz essa conexão é o BrfHub.
“O Hub é a porta de entrada para inovação aberta na BRF, é o canal de conexão da empresa com o ecossistema de inovação aberta do Brasil e do mundo”, afirma Stephanie Blum, gerente de inovação da BRF.
“A missão da BRF permanece ser a de alimentar o mundo com qualidade e sustentabilidade. E o Hub tem o papel de viabilizar o teste de tecnologias com parceiros que estejam alinhados com esse propósito”, diz ela.
Para ela, por meio dessas parcerias, a BRF ganha especialmente velocidade. “Escolhemos startups, scale-ups e universidades que tenham especialistas no tema, que pesquisam ou desenvolvem protótipos há anos”, explica.
“É um ganha-ganha, porque a startup ou universidade pode testar seu MVP com a BRF, com custos pagos pela companhia, em um ambiente de aplicação real, e a BRF tem a chance de ver de perto novas tecnologias que podem ser utilizadas nos próximos anos.”
Para Claudio Nessralla, diretor de Arquitetura & Integração Sistêmica da empresa, a inovação é importante e necessária em toda a cadeia – mas em algumas áreas específicas ela é especialmente bem-vinda. “Há sete premissas fundantes do nosso negócio. Elas ditam muito mais no modo tácito como devemos tocar a empresa, sobreviver e prosperar”, afirma ele.
“Se a inovação que vem de fora, de parcerias com startups ou universidades, ajudar a resolver alguns desafios ou catapultar esses escopos, ela é absolutamente sinérgica”, diz. “É isso que buscamos.”
Conheça as premissas e o que Claudio Nessralla diz a respeito de cada uma:
A BRF é um negócio vivo
“Somos um business vivo. Vivo de verdade: lidamos com proteína animal. E aqui cabe inovação: tudo o que nos ajuda a aumentar o shelf life, ou tempo de prateleira, de um produto é útil: novas tecnologias de refrigeração, produtos shelf stable (que podem ser armazenados em temperatura ambiente) etc.
E, diferentemente de outros negócios, temos no nosso um ciclo que é da natureza. Queira ou não, o ciclo de produção de um frango é de 42 dias. A gestação da porca é de 3 meses, 3 semanas e 3 dias. Isso não muda. Não consigo, como numa fábrica de pneus, parar a produção. Portanto, toda inovação que me permita trabalhar de forma preditiva, com mais tecnologia e otimização, ajuda.
No sentido metafórico, sermos um business vivo tem relação com a quantidade de variáveis imprevisíveis e incontroláveis que afetam diariamente nosso business. Por exemplo: fatores climáticos, questões sanitárias, acordos de trade entre os países, câmbio, exigências técnicas.
Usar respostas estanques não dá certo. Cansei de ver projetos corretos afundarem porque em determinado momento mudaram as variáveis e nada mais era como no começo.”
A cadeia é longa e complexa
“Há coisas interessantes que acontecem aqui: os eventos têm uma correlação de causa e efeito que estão distantes no tempo-espaço. Tomo uma decisão hoje em minha cadeia que o efeito colateral, para o bem ou para o mal, não necessariamente vai acontecer brevemente: isso pode vir meses ou anos depois.
Um exemplo: se você vier me dizer que quer aumentar a produção de porco em 2020, vou dizer que em 2028 você pode voltar para ver o resultado.
Porque eu preciso de oito anos para conseguir fazer isso acontecer: desde obter a licença ambiental até passar pelo ciclo de bisavó, avó e agropecuária até sair o primeiro leitãozinho pronto. Frango são cinco ou seis anos. E isso é o principal fator que faz pessoas e projetos ‘sofrerem’ nesse nosso business.”
É preciso “liquidar o animal”
“Diferentemente do que acontece em outras empresas de bens de consumo, aqui temos a desmontagem e depois montagem. Desmontamos o frango, por exemplo, para montar nosso produto. O custo do animal já está dado. O que eu fizer com cada parte do frango – coxa, sobrecoxa, peito, miúdos – vai me dizer se eu tive o melhor ou o pior resultado.
E ‘liquidar o animal’ tem muito a ver com inovação reversa de produto. Por exemplo: para produzir um processado com um corte quadrado no peito do frango, o que faço com as tiras laterais que sobraram? Posso pegar esse retalho e fazer um produto on the go, como uma barrinha de proteína para o sujeito consumir na academia ou no trabalho. Peguei algo que não tinha utilidade e criei um produto de valor agregado. Show de bola. Aqui, a inovação me ajuda muito.”
Geralmente o primeiro erro é o menor
“Portanto, o melhor é assumir a bronca, resolver e tirar da frente. Se não fizermos isso, o negócio vira uma bola de neve. Como os volumes com que trabalhamos são muito grandes, a cada dia que não se resolve um problema ele se agrava. Hoje abatemos 6 milhões de frangos. Amanhã, querendo ou não, mais 6 milhões. E, para resolver problemas de processos, a inovação pode estar em ‘n’ potenciais lugares.”
A BRF é classicamente um sistema
“Tudo que pensamos de forma linear, cartesiana, normalmente não funciona. É preciso enxergar o business como um negócio com retroalimentação. Uma coisa afeta a outra. O funcionamento é compulsoriamente interdependente e precisamos navegar nos elementos hard e nos soft.
Vou, portanto, trabalhar com processos, KPI, tecnologia, análises etc. Mas vou trabalhar também com cultura, com modelo mental, subjetividade. É preciso equilibrar esses dois elementos. E a biologia e a biomimética têm dado pistas muito boas de como lidar com essa complexidade.
Primeiro que o negócio é grande, depois que tudo é conectado com tudo. Quando olho para a inovação para teorias de complexidade e em como tem se lidado com ela, vejo aí um belo nicho para buscarmos inovação.
Como lidamos com sistemas dinâmicos complexos? O ideal é ter uma leitura não apenas para a inovação de produto e a inovação tecnológica – de soluções para matar bactérias, de radiação, de embalagem –, mas também pensando no contexto como um todo.”
Gerar valor é importante, mas proteger valor também
“Não é na geração de valor que não agimos de forma muito eficaz algumas vezes nos últimos anos – é, sim, na proteção de valor. O nome do jogo é: como vou perder menos? Porque isso me permite sobreviver em tempos de vento contra.
Depois, no momento em que o ciclo inverte, estamos muito mais bem preparados que o concorrente. Historicamente as aquisições que a companhia fez ajudaram nesses momentos. Portanto, inovação para auxiliar essa proteção de valor também é bem-vinda.”
É preciso saber separar momento conjuntural do estrutural
“Depois de ter seu rebanho dizimado pela peste suína africana, a China aumentou suas exportações de proteína do Brasil. Mas esse movimento é puramente conjuntural. Em alguns anos a China vai ter recomposto seu plantel de suínos e não vai mais importar tanto quanto hoje.
Por outro lado, é estrutural o movimento da Rússia, que sempre foi nosso grande mercado de suínos: é sabido há uma década que o país ampliava seu plantel de suinocultura para ser autossuficiente. Precisamos nos preparar para tudo, mas com estratégias distintas.
Há movimentos estruturais superpositivos para onde também miramos a inovação, como o de sustentabilidade. Ele afeta especialmente a geração mais jovem, que está chegando agora nos pontos de decisão. Essa turma exige saber de onde vem o produto, como tratamos os animais, de quem compramos os grãos.
Socialmente falando, querem saber que tipo de impacto temos na comunidade onde atuamos. E como é nossa governança, se mulher tem voz, se a empresa valoriza a diversidade. Quando olho para a BRF, vejo que aqui é para onde mais a inovação deve nos puxar.
Há um leque gigante de inovação necessária na forma de nos comunicar, em metodologia de como buscar esse novo consumidor e o entender. É preciso também inovação nos tipos de produto que vamos fazer para ele.”